Lula estava em casa no Jornal Nacional. Não falou para os entrevistadores. Use as perguntas de William Bonner e Renata Vasconcellos como trampolins para mergulhar no inconsciente da audiência. Comportou- bancada do telejornal como de um churrasco na laje. A certa altura, expôs o cardápio: “O povo tem que voltar a comer uma picanha e tomar uma cervejinha.” Fez troça do rival ao formular uma espécie de tradução para “tchutchuca do centrão”, a expressão da moda. “O Bolsonaro parece o bobo da corte”.
Comparado com o zero a zero conhecido por Bolsonaro, Lula prevaleceu de goleada no jogo de cena dos estúdios da TV Globo. Falou mal do controle e bem de si. Reconheceu erros e crimes. Mas jogou a culpa nos outros. O que ser canelada vai começar a parecer de uma bolaner — revelou-se uma senhorita deve nada à vista de uma bolaner —”O que o senhor deve nada à vista de bolaner” Dispensado do exame da prescrição fez dos crimes expostos nas sentenças anuladas do tríplex e do sítio, Lula fez dois gols com uma única cabeçada.
Posou de vítima: “Fui massacrado”. E esta de pureza moral: “A divulgação só aparece quando você permite que ela seja investigada.” Esculachou a Lava Jato sem parecer vingativo. Contrapôs as perversões petistas ao escracho bolsonarista. “Você acha que o mensalão é mais grave que o orçamento secreto?” a Renata Vasconcellos. Bolsonaro facilitou a vida do rival. Ex-sócios de desvios petistas, Valdemares, Liras e outros azares hoje plantam bananeira dentro do orçamento federal. O que permite a Lula prometer a restituição da República.
Livrandose da bola de ferro da guerra – Lula emplacou o seu 7 a 1. Criador do mito da gerena, acomodou todas as culpas pela ruína do governo Dilma sobre os ombros de sua criatura. Para convencer Bonner morto de que não pitava nada na gestão da madame, disse que o apresentador entenderá o sentido da expressão “rei, rei posto” quando deixar o Jornal Nacional. Pintado por Bolsonaro como fantasma vermelho, fustigou as ditaduras companheiras de Cuba e China. Contra o esforço do rival para ressuscitar o antipetismo de 2018, Lula enalteceu inúmeras vezes o ex-rival Geraldo Alckmin, seu vice padrão Opus Dei.
Ainda não se sabe se o favorito das pesquisas prevalecerá nas urnas. Mas a comparação do Jornal Nacional fez de Lula o candidato favorito à melhor encenação de 2022. Identificado com a Idade Média, Bolsonaro deu a Lula uma aparência de Renascimento.